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Pelo menos 600 pacientes aguardam cirurgia no Hospital de Bonsucesso
18 de agosto de 2017
Pelo menos 600 pacientes esperam para serem operados no Hospital Federal de Bonsucesso (HFB). Esse número representa apenas aqueles que entraram, até dezembro de 2015, com recurso na Justiça para poderem passar por cirurgia. Nesta quarta-feira, servidores e pacientes do hospital interditaram a Avenida Brasil, na Zona Norte, durante uma passeata em defesa do sistema federal de saúde do Rio. Cerca de 300 pessoas se reuniram em frente à unidade e protestaram contra a falta de funcionários e insumos. A manifestação, que aconteceu das 10h até o meio-dia, fechou a via por volta das 11h30m.
Segundo o diretor do corpo clínico do HFB, Baltazar de Araújo, o principal agravante da situação no hospital é a carência de recursos humanos devido aos contratos temporários não renovados, além de não ter havido concursos públicos recentemente para a chegada de novos profissionais à unidade.
— Nós perdemos, no último ano, 37 funcionários: 21 eram clínicos de emergência e 16, anestesistas. Além deles, saíram quatro oncologistas clínicos. Com isso tudo, houve um grande impacto negativo, porque temos uma demanda muito grande de atendimento. Há, agora, um comprometimento para atender os pacientes oncológicos e os que aguardam na fila cirúrgica.
O presidente da Federação Nacional dos Médicos (Fenam), Jorge Darze, esteve presente na passeata e ressaltou que a manifestação não era contra a direção do hospital. O foco do protesto é a forma que o Ministério da Saúde conduz a gestão das unidades federais de saúde no Rio, que pensa em passar a administração das unidades para outras instâncias ou até mesmo privatizá-las, como explica Darze.
— O ministério acha que não tem mais que gerir os hospitais federais no Rio de Janeiro. Para ele, uma solução seria passar essas unidades para o estado ou para o município. Já tivemos essa experiência antes e foi desastroso, quase que os hospitais fecharam! Sem contar que, com o estado do Rio quebrado, fazer isso é apostar na derrota. O governo estadual mal consegue gerir os próprios hospitais. — salienta Darze. — A outra solução do ministério seria entregar às instituições privadas, como organizações privadas. Para nós, isso é absolutamente inconstitucional. Na mão-de-obra privada a rotatividade é muito grande, e isso desconstrói o Sistema Único de Saúde.
Audiência no Congresso Nacional
Para debater as opções sobre a gestão dos hospitais federais, Darze enviou um pedido de audiência pública ao presidente da Comissão de Seguridade Social e Família na Câmara, o deputado federal Hiran Gonçalves (PP-RR). O político de Roraima fez a convocação do encontro, que deve acontecer, segundo ele, nas próximas duas semanas. Gonçalves espera apenas o retorno do ministro da Saúde, Ricardo Barros, que está de férias, para poder participar da reunião e explicar a condição do governo federal na administração dessas unidades.
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— Ministério da Saúde não é para ter hospital. Precisamos encontrar uma saída para otimizar a gestão dessas unidades. Esse é um modelo passado que remete a época que o Rio ainda era a capital do Brasil. O sistema de saúde é gerido em três frentes: a União formula políticas; o estado gerencia unidades de média e alta complexidade; e os municípios, normalmente, assistências básicas. Nós queremos, então, discutir um modelo de como vamos fazer para tornar mais autônomas e eficientes as redes federais de saúde.
Procurados pelo GLOBO, a direção do Hospital Federal de Bonsucesso e o Ministério Público negaram a falta de funcionários e insumos. Em relação ao número de profissionais que deixaram de atuar na unidade, o ministério informou que 21 contratos temporários de médicos venceram no período de 1º de janeiro a 31 de julho deste ano. No entanto, mais 40 funcionários foram contratados nos últimos meses. Ainda de acordo o Ministério da Saúde, ao todo, 304 contratos temporários tiveram profissionais repostos desde o começo do ano na rede federal do Rio. O Departamento de Gestão Hospitalar (DGH) informou também que todos os seis hospitais da rede do Ministério da Saúde no Rio de Janeiro estão em reestruturação para ampliar em 20% o atendimento em oncologia, cardiologia e ortopedia — as maiores demandas da população que as unidades de saúde.
Trocas na direção do HFB
No início de julho, a doutora Lucia Bensiman foi exonerada do cargo de diretora-geral do Hospital Federal de Bonsucesso. Em seu lugar foi nomeado Gilson Max Freitas de Araújo, cirurgião geral na unidade há 26 anos. Na época, houve a denúncia de que apenas um médico estava ficando de plantão aos domingos na unidade e, às segundas-feiras, o setor funcionava somente com o clínico-geral do plantão, responsável por cerca de 300 pacientes internados em enfermarias.
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