Em matéria do JB, deste domingo (06), FENAM e CREMERJ cobram ação efetiva do governador do Rio de Janeiro na área da saúde.
A rede pública que espera Witzel
JORNAL DO BRASIL faz um check-up das unidades mais próximas da casa do governador
Depois de anunciar em campanha que iria utilizar a saúde pública do estado, o governador do Rio, Wilson Witzel, já avisou que vai cumprir a promessa. Ele admitiu, porém, que manterá o seu plano de saúde por causa das viagens para fora do estado: “Pretendo manter meu plano de saúde por causa das minhas viagens, em razão de viagens internacionais e para outros estados, mas usar a saúde do estado é uma obrigação do governante e isso nós vamos fazer”. Morador do Grajaú, na Zona Norte da cidade, Witzel poderá passar por alguns transtornos caso venha a ser atendido na rede de saúde pública da sua vizinhança e até mesmo em outras unidades do Rio.
Se tiver uma dor de cabeça ou problemas com a pressão, o governador poderá utilizar a Clínica da Saúde da Família na Rua Botucatu, a menos de dois quilômetros da sua casa. Mas, lá, caso ele venha precisar de exame de baixa complexidade — uma ultrassonografia, por exemplo — poderá esperar de 30 a 45 dias.
Apesar disso, os pacientes estão satisfeitos com os serviços oferecidos na unidade. “Fiz o meu pré-natal aqui (na clínica da saúde da família) e trago a minha filha a consultas mensais ao pediatra”, conta a dona de casa Letícia Camilo, de 23 anos.
“A aposentada Dijanira de Souza (C), de 92 anos, que teve um derrame e tem o lado esquerdo do corpo paralisado, esperou atendimento médico sentada numa cadeira de rodas por mais de quatro horas, na sexta-feira na emergência do Hospital do Andaraí(Foto: José Peres / Jornal do Brasil)
A situação pode ficar mais complicada caso Witzel sofra alguma emergência e procure o hospital mais próximo, no caso, o Hospital Federal do Andaraí, na Rua Leopoldo, distante 1,6 quilômetro da casa do governador. Witzel poderá ser uma experiência desagradável, se sofrer uma hemorragia, como ocorreu ao faxineiro J., de 60, que passou 13 dias internado, sentado numa cadeira de rodas. “Cheguei no Andaraí às 21h e só fui atendido no outro dia às 15h. Tinha pegado as minhas coisas para ir embora, e minha família me convenceu a voltar. A internação foi horrível. Meus pés incharam de um jeito que nunca vi igual.”, contou J.
A espera do atendimento
Na tarde da última sexta-feira, a costureira Shirley de Souza, de 43 anos, chegou ao Andaraí por volta do meio-dia. Foi avisada de que deveria esperar por um médico para fazer a ficha, o que aconteceu somente por volta das 17h, e o atendimento médico acabou acontecendo 3h20 depois. “É um desrespeito com o ser humano. Estava com muita dor nas pernas e com a pressão alta”, lamentou Shirley, que aguardava o atendimento sentada numa mureta.
Na mesma situação, estava a aposentada Dijanira de Souza, de 92 anos, que também aguardava ao lado de fora da emergência, mas sentada numa cadeira de rodas. Com o lado esquerdo do corpo paralisado por causa de um derrame, ela estava com febre alta. “A dona Dijanira deveria ter prioridade. É um descaso com a população. Tomara mesmo que o governador venha conhecer como a população que votou nele é atendida nos hospitais”, disse Jaqueline Resende, de 43 anos, acompanhante de Dijanira.
“Shirley esperou oito horas por atendimento(Foto: José Peres / Jornal do Brasil)
O governador também pode optar por usar a Unidade de Pronto Atendimento (UPA 24h), que faz parte da rede de atenção às urgências. A opção mais usada pelos moradores da região onde mora Witzel é a Tijuca. Os pacientes contam que há demora no atendimento por falta de médicos. O cozinheiro Nilton Ramos, de 49 anos, estava na UPA da Rua Conde de Bonfim acompanhando a mulher, que estava com infecção urinária. Era o segundo dia que o casal recorria à unidade. Na véspera, tinham desistido do atendimento após os dois médicos que atendiam serem deslocados para emergências na unidade. “Uma funcionária avisou que eles estavam na emergência e que não sabia quanto tempo iria demorar. O novo governador deveria percorrer essas unidades para ver a realidade do nosso povo”, contou Nilton.
Apesar da demora do atendimento, os pacientes da UPA da Tijuca disseram que ela é uma das melhores das redondezas. “Venho da Cidade Nova, porque a UPA de lá não tem condições. Falta médico, remédio e é suja”, contou a cozinheira Rojane Monteiro, de 55 anos.
“J. (esq.) ficou 13 dias internado sentado numa cadeira(Foto: José Peres / Jornal do Brasil)
Presidente do Cremerj, Sylvio Provenzano diz que o grupo de transição do atual governo procurou o órgão para conhecer a situação da saúde no estado. Ele lembra que o usuário do SUS sofre com filas, dificuldades de marcação de exames — uma tomografia pode levar até seis meses —, além de outras mazelas. “Espero que o juiz [Witzel] tenha um olhar crítico para esse cenário”, comentou. Já o presidente da Federação Nacional dos Médicos, Jorge Darze, diz que os últimos anos da gestões estaduais da saúde foram um “genocídio”. Ele ressalta que o próximo governo deve também valorizar os profissionais da saúde: “O povo está cansado de propostas de marketing político nos primeiros 100 dias de governo. Esperamos que seja diferente”.
A previsão é de que o orçamento destinado à saúde no estado seja de cerca de R$ 7,1 bilhões este ano. Segundo o deputado Luiz Paulo (PSDB), somente de restos a pagar de 2018, o estado tem cerca de R$ 11,6 bilhões. Desse total, R$ 5,2 bilhões são para a área da saúde, o que representa 44,65% do total. O Ministério Público do Estado do Rio chegou a ajuizar uma ação contra o então governador Luiz Fernando Pezão por não aplicar o percentual mínimo de 12% da arrecadação na saúde. “O governador é forte, robusto e bem disposto. Espero que ele não precise usar a saúde pública que está aí”, observou Luiz Paulo.
A aposentada Dijanira de Souza (C), de 92 anos, que teve um derrame e tem o lado esquerdo do corpo paralisado, esperou atendimento médico sentada numa cadeira de rodas por mais de quatro horas, na sexta-feira na emergência do Hospital do Andaraí (Foto: José Peres / Jornal do Brasil)
A aposentada Dijanira de Souza (C), de 92 anos, que teve um derrame e tem o lado esquerdo do corpo paralisado, esperou atendimento médico sentada numa cadeira de rodas por mais de quatro horas, na sexta-feira na emergência do Hospital do Andaraí (Foto: José Peres / Jornal do Brasil)
Fonte: Jornal do Brasil
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